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O que temos e o que queremos


              Gosto de caminhar pelo comércio de minha cidade. Tem uma característica diferente, dinâmica e caótica. As pessoas caminham apressadas. Responsabilidade no olhar, sabem onde vão e o que querem. Precisam de muito pouco para viver, sorrir e serem felizes. Parece que a brisa que vem do rio Caeté revigora suas almas alimentadas pela esperança de ver nossa Bragança com belos trajes, calçada com sapatinhos de cristal, qual cinderela em noite de gala. Ma o rio Caeté chora e suas lágrimas rolam por sobre o lodo inundo e fético, desprezado e triste. Quando suas águas estão em maré alta, ele conforta sua companheira de infortúnio – a “favela”.
               O dicionário diz que: “favela – é um conjunto de habitações populares, em geral tostamente construídas e usualmente deficientes de recursos higiênicos”. Mas eu acrescento mais algumas significações: é a ferida, a chaga, o tecido porulento de administradores que não têm a sensibilidade, a inteligência e a competência de cuidar bem do dinheiro público. Não me dirijo a alguém em especial, mas a todos aqueles que não fizeram nada pelo povo e pela cidade, ou o fazem muito pouco. Por quê?
               A orla do rio Caeté se cuidada com carinho seria o cartão postal desta cidade, cantada pelos poetas e saudada pelos visitantes. As ruas esburacadas, cheias de lixo e lama obrigam os transeuntes a olhar para o chão, ou correm o risco de cair – e caindo de joelhos aproveitam e fazem uma prece. No dia 27 de outubro de 2010 tive a grata satisfação de visitar a Feira Cultural do IST, cujo tema era – “A Bragança que temos e a Bragança que sonhamos” – Estão de parabéns todas as escolas de Bragança que realizam projetos dessa natureza mobilizando a comunidade escolar para que tomem consciência da realidade do nosso cotidiano. Esses projetos poderiam servir de inspiração para as políticas públicas tão necessárias, pois envolvem poder público e os vários grupos sociais, ou seja a sociedade.
                  A sociedade é um organismo vivo em constante mutação, é por isso que os cidadãos e cidadãos que pertencem a uma mesma comunidade não podem deixar o poder público governar sozinho, pois estamos numa democracia e não numa ditadura. Temos é dever de colaborar. Gosto de ver grupos nas ruas reclamando por seus direitos de forma pacífica e consciente. Pois muitas vezes o poder público precisa ser pressionado para que a luz brilhe e veja com carinho o trabalhador, a trabalhadora honestos nos sustento de sua família.
                  Quando as ruas são usadas depois da burocracia é porque foram levados à exaustão aqueles que muito pediram e confiaram no momento do voto. Se a máquina administrativa funcionar com as rodas dentadas perfeitamente ajustadas e lubrificadas com o óleo da competência e da vontade política, tudo funcionará bem. O poder e o dinheiro são duas forças poderosas e quando aliadas ao respeito, conhecimento, talento e trabalho exercem transformações para o desenvolvimento e o bem estar coletivo.
                   Achei estranho quando os pequenos quiosques de alimentação foram “jogados” para baixo na orla do rio Caeté sem a estrutura necessária para recebe-los. A população tem o direito da escolha e as várias opções apresentadas fariam bem a todos, pois, há quem prefira os restaurantes e há os que preferem os quiosques. Todos sairiam ganhando e os gestores municipais ganhariam mais alguns votos.
                  Quando Emílio Dias Ramos foi prefeito de Bragança há muitos anos, ele realizou o projeto da Feira às margens do rio Caeté com barracas padronizadas, praça ao lado do mercado de peixe onde os bragantinos promoviam festas na quadra junina. O local era enfeitado com bandeirolas coloridas e outros eventos eram também realizados. Era uma boa opção de lazer. Na época o povo só reclamou de uma coisa e reclamou muito, ele, o prefeito mandou derrubar dezenas de mangueiras que enfeitavam nossos passeios. Tirou-nos o prazer de juntar mangas deliciosas com todo o vigor do alimento saudável, a sombra benfazeja, a oxigenação dos pulmões, a paisagem exuberante.
                  A igrejinha de São João foi demolida, não sei quem foi o responsável, nem o porquê. No lugar ficou o Cruzeiro da Aldeia, que hoje também não existe. Temos agora somente uma feira que é a vergonha de todo bragantino da “gema”. A falta de urbanização da cidade ao longo do tempo transformou nossa feira em uma “favela”. Qual administração “purificará” a orla do rio Caeté? Barcos de pesca, empresas de médio porte, feirantes, pescadores, todos esperam por esse histórico momento, pois segundo informações confiáveis é muito difícil realizar essa “grande” tarefa. Impossível é para mim! Essa é minha opinião.

Sibá Torres (72 anos)
Professora em Letras pela UFPA
Bragança-Pará